Existem cidades de
muitos tipos, com praia, vida animada, teatros e até aquelas que não dormem,
outras com mistérios. Moro em Curitiba, fiz dela minha cidade do coração, é
peculiar. É um lugar de imigrantes, na sua maior parte de origem Europeia,
poloneses, alemães, italianos, russos, espanhóis que ainda guardam suas antigas
tradições, trouxeram consigo música, língua, e talvez mais coisas das que
podemos mencionar.
O clima semelhante ao
Londrino: frio, garoa, e nevoa densa, que podemos amenizar com um bom vinho e
um queijo derretido; a comida e bebida por estas bandas reconfortam o corpo e o
espírito.
Porém, à noite, que
revela sua verdadeira identidade. Entre uma chuva fina, e vento suave ao
caminhar pelas suas ruas cheias de chafarizes e lampiões do século passado,
observamos velhas mansões, recantos esquecidos e reflexos amarelados de antigos
tempos, que de alguma forma revivem a cada noite, aqui nesta Gótica Cidade.
A Rua Saldanha
Marinho, de pedras lisas, estreita e mal iluminada guarda muitos bares “Underground”
(Underground "subterrâneo", em inglês, é uma expressão
usada para designar um ambiente cultural que foge dos padrões comerciais, dos
modismos e que está fora da mídia. Também conhecido como Cultura Underground
ou Movimento Underground, para designar toda produção cultural com estas
características, ou Cena Underground, usado para nomear a produção de
cultura underground em um determinado período e local.), para entrar
temos que bater e esperar que nos liberem, alguns somente permitem a
entrada de antigos freqüentadores, por algum motivo o lucro parece não ser o
objetivo de sua existência.
La dentro,
escritores, poetas, artistas de teatro e pensadores riem e se divertem, numa
atmosfera fantasmagórica e irreal, fama e fortuna, não formam parte
de suas ambições. Um exemplo famoso e o escritor Dalton Trevisan (Dalton
Jérson Trevisan (
Curitiba,
14 de junho de
1925) é um escritor
brasileiro, famoso
por seus livros de
contos,
especialmente
O Vampiro de Curitiba (1965), e por sua natureza reservada.
),
que alguns dizem se tratar de um vampiro real, se esconde durante o dia, nunca
deu entrevistas, mora em algum lugar, talvez numa dessas antigas mansões
abandonadas e somente caminha pelas ruas de Curitiba à noite entre as sombras e
chuva fina, que gela até os ossos.
Existem muitas lendas
estranhas. Mas a experiência que vou relatar não é uma delas, aconteceu comigo
neste mês de maio de 2014, e mais tenho provas documentais do fenômeno.
Após jantar com minha
esposa, numa das melhores cantinas Italianas: Baviera; saímos, e como sempre
caminhamos pela cidade, fumando um charuto e bebendo uma taça de vinho, uma
atitude normal por aqui. Ela esta preparando uma exposição de fotos sobre a
noite Curitibana, focando no seu clima Gótico, cheio de mistérios.
Armada com sua
“Nikon” de última geração tirou centos de fotos: Casas abandonadas,
vielas esquecidas, esculturas tristes de jardins melancólicos e relva crescida,
reflexos mágicos em fontes e algumas nas quais apareço, como acessório do
entorno fantasmagórico.
Pela metade da
madrugada, na hora da coruja, caminhando na “Rua XV”, exclusiva para pedestres
que atravessa a cidade. Com suas luminárias amarelas e frias no estilo "Belle Époque", velhos bons tempos, ali neste ambiente nostálgico, ela tomou fotos, capturando existências pretéritas.
Eu fumava para espantar o frio.
De algum lugar, talvez
um prédio, o som de saxofone iluminava a madrugada, aqui na cidade músicos
invisíveis costumam tocar seus instrumentos, verdadeiros mestres anônimos. Ela
falou, “Fique perto da luminária, a luz parda cai bem.” Acendi um cigarro e fiz
posse.
Nossa escapada estava
no fim, tínhamos comido, bebido e caminhado tomando fotos, da Cidade de luzes e
sombras, cheia de contrastes e espaços místicos.
Sábado, à tarde,
reservamos para digitalizar as fotos e separar as boas tomadas. Fiz um café,
fumei meu charuto, e... Ela me chamou, “Veja! Alguma coisa que não devia estar
ali...”.
Tinha a foto da
fonte, em amarelo, com inúmeros reflexos, criando uma atmosfera irreal,
perfeita. A pesar de conhecer a cidade, sempre fico surpreso com os detalhes
novos, a cada foto revelada.
Ela programou a
câmara para disparar duas vezes, de forma automática, desta forma sempre tem
duas tomadas registradas. Tomei um gole de café, forte e sem açúcar, quase
engasguei, três vultos estavam atrás de mim!
Senão fosse pelo
registro digital, duvidaria da historia. As fotos não foram alteradas ou
retocadas. Três pessoas ou deveria dizer “Espectros”, foram pegos no primeiro
disparo e cinco segundo após, não estavam mais no foco da lente.
Uma mulher no fundo,
vindo na nossa direção e dois homens passando com imagens borradas. O tempo
entre uma imagem, curto demais, usando flash (Ver reflexo, canto superior esquerdo). Um detalhe impressionante: O rosto do homem borrado, deixa passar a imagem da fachada! Não da para aceitar outra explicação: Pegamos os
Fantasmas de Curitiba!
A noite gótica,
envolve-nos, com seu
manto.
As ruas,
tornam-se labirintos
do passado.
Duas realidades,
convivem, num
paradoxo.
Verso e reverso,
unem-se, na
madrugada.
Por alguns instantes,
andantes, sem lar, abandonados.
Respiram o agora.
Olha, estão junto a
ti.
Eles riem para nos.
Saudemos aqueles,
que não existem mais
nesta realidade.
Porque um dia seremos Eles!
[Por
Manuel Funes]
Mai/2014
Versão
#4